Nos últimos meses, a cotação do dólar tornou-se um dos principais temas nos debates econômicos, tanto em nível nacional quanto internacional. O valor recorde de R$6,0371 consolidou o real brasileiro como a moeda que mais se desvalorizou até o ano de 2024.
Mas, afinal, por que esse aumento significativo ocorreu e como ele afeta o dia a dia do brasileiro? Para entendermos melhor sobre o assunto, neste texto iremos analisar os fatores externos, os fatores internos e os impactos na alta do dólar gerados no Brasil.

1. Fatores Externos
1.1 Impactos Geopolíticos
A reeleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos gerou um aumento significativo na procura por ações de empresas americanas. Suas propostas econômicas, apresentadas durante o processo eleitoral, indicavam um fortalecimento da balança comercial americana. Entre as principais medidas, destacam-se a imposição de tarifas sobre produtos importados e cortes de impostos, que impactaram diretamente a economia global.
Inicialmente, Trump buscava enfraquecer o dólar em relação a outras moedas estrangeiras. Sua estratégia era encarecer os produtos importados, incentivando o consumo de bens americanos tanto no mercado interno quanto no externo. Essa abordagem visava tornar os produtos nacionais mais competitivos no cenário global.
No entanto, suas medidas econômicas, incluindo o corte de impostos e a aplicação de tarifas comerciais, aumentaram a atratividade de ativos americanos para investidores estrangeiros. Isso resultou em um fluxo significativo de capital para os Estados Unidos e, consequentemente, no fortalecimento do dólar, que se tornou supervalorizado devido à alta demanda.
Esse fortalecimento impactou o comércio global, dificultando as exportações americanas ao torná-las mais caras e afetando países emergentes, cujas dívidas e importações estão frequentemente denominadas em dólar. A valorização inesperada da moeda americana demonstra como políticas internas podem ter efeitos globais e, em alguns casos, contradizer objetivos iniciais.
1.2 Impactos Monetários
De acordo com o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, os cortes na taxa de juros podem ocorrer de maneira mais lenta do que o inicialmente planejado. Essa sinalização gera impactos negativos nas moedas de países emergentes, uma vez que investidores tendem a direcionar seus recursos para economias com maior estabilidade e retornos mais atrativos.
Essa dinâmica tem levado muitos brasileiros a transferirem seus investimentos denominados em reais para ativos nos Estados Unidos, buscando proteção contra a desvalorização do real e aproveitando as oportunidades oferecidas por mercados mais consolidados.

2. Fatores Internos
Um dos fatores que impactam a alta do dólar no Brasil é a instabilidade fiscal, agravada pela persistente fragilidade no cenário financeiro do país. A taxa Selic, como principal instrumento do Banco Central para controle da inflação e estabilização da economia, desempenha um papel crucial nesse contexto. Em geral, taxas de juros elevadas tendem a atrair investimentos estrangeiros, devido a maior rentabilidade. No entanto, quando as expectativas de crescimento econômico são pessimistas, mesmo uma Selic elevada pode não ser suficiente para conter a valorização do dólar.
Além disso, a valorização do dólar, acompanhada pela incerteza econômica, pode desestimular o interesse dos investidores internacionais no Brasil, diminuindo o fluxo de capitais para o país. Essa diminuição de recursos impacta as qualidades do crescimento econômico e dificulta a geração de empregos, agravando ainda mais a situação econômica.
Os objetivos fiscais definidos pelo governo também influenciam diretamente a valorização do dólar. Caso as metas fiscais não sejam atingidas, a confiança dos investidores pode ser comprometida. Em um cenário de agravamento das finanças públicas, as preocupações em relação à sustentabilidade da dívida aumentam, levando à intensificação da busca por ativos em dólares, considerados mais seguros. Consequentemente, a fragilidade fiscal se torna um resultado para a venda de ativos denominados em reais, deteriorando ainda mais a moeda brasileira.
3. Impactos Gerados no Brasil
De acordo com a CNN, especialistas apontam que o impacto da valorização do dólar no bolso dos consumidores brasileiros não é imediato, levando plenamente, em média, de 6 a 9 meses para serem percebidos. No entanto, os efeitos da alta do dólar vão além de viagens internacionais e itens de lazer. Um dos impactos mais rápidos é o aumento da inflação, dado que muitos produtos consumidos no Brasil, como combustíveis, trigo, fertilizantes e itens industrializados, são importados ou dependentes de insumos cotados em moeda estrangeira. Com a alta do dólar, o custo desses bens sobe, e esse encarecimento é repassado ao consumidor final.
Além disso, produtos fabricados localmente que competem com os importados também podem ter seus preços elevados, sendo essencial fazer uma precificação adequada, aproveitando o contexto de valorização da moeda americana. Esse aumento na inflação reduz o poder de compra da população, afetando especialmente as famílias de baixa renda, que direcionam uma maior parte de sua renda para a compra de itens essenciais.
Um exemplo claro do impacto da alta do dólar no mercado interno está relacionado a produtos que, apesar de serem consumidos domesticamente, possuem forte demanda de exportação. Com o dólar valorizado, exportar torna-se mais lucrativo para os produtores. Por exemplo, um empresário do agronegócio que comercializa arroz pode optar por vender ao mercado externo, obtendo preços mais altos em reais devido à conversão favorável. Nesse cenário, o produtor prioriza exportações em detrimento do abastecimento do mercado interno, o que pode pressionar ainda mais os preços no Brasil e reduzir os produtos disponíveis para os consumidores locais.
Conclusão
A valorização do dólar no Brasil é um fenômeno complexo, impulsionado por uma combinação de fatores externos e internos Esse cenário tem implicações significativas para o cotidiano do brasileiro, principalmente no aumento da inflação, que pressiona o custo de vida, e na redução do poder de compra, afetando especialmente as classes mais baixas. O impacto nos preços de produtos essenciais, bem como a priorização das exportações sobre o mercado interno, reflete as dificuldades que o país enfrenta para equilibrar sua economia.
Dessa maneira, a elevação do dólar expõe a fragilidade do Brasil diante os desafios globais e internos, demandando políticas econômicas mais eficientes para amenizar suas consequências no bem-estar da população.
Para que sua empresa consiga aproveitar as oportunidades trazidas pela valorização do dólar e superar os desafios pela inflação, é fundamental ter um planejamento estratégico bem estruturado e ferramentas financeiras adequadas para tomar decisões assertivas.